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Básico do Active Record

Este guia é uma introdução ao Active Record.

Depois de ler este guia, você vai saber:

1 O que é Active Record?

Active Record é o M em MVC - o model - que é a camada do sistema responsável pela representação da lógica e dados de negócio. O Active Record facilita a criação e uso de objetos de negócio cujos dados precisam ser persistidos num banco. Essa é uma implementação do padrão do Active Record que por si só é a descrição de um sistema de Mapeamento Objeto-Relacional (Object Relational Mapping).

1.1 O Padrão Active Record

O Active Record foi descrito por Martin Fowler no seu livro Patterns of Enterprise Application Architecture. No Active Record, objetos possuem ambos dados persistentes e comportamento que opera nesse dado. A filosofia do Active Record consiste em assegurar que lógica de acesso a dados seja parte do objeto, e que o uso deste objeto vai permitir deduzir como escrever e ler o banco de dados.

1.2 Mapeamento Objeto-Relacional (Object Relational Mapping)

Mapeamento Objeto-Relacional, comumente referido na sua abreviação ORM, é a técnica que conecta os objetos de uma aplicação a tabelas em uma tabela de um banco de dados relacional de um sistema de gerenciamento. Usando ORM, as propriedades e relações entre objetos e a aplicação podem facilmente ser armazenadas e recuperadas do banco de dados sem a necessidade de escrever comandos SQL diretamente e com menos código de acesso ao banco de maneira geral.

Conhecimentos básicos de sistemas de gerenciamento de bancos de dados relacionais (sigla em inglês: RDBMS) e structured query language (SQL) são úteis para compreender inteiramente o Active Record. Por favor, refira a este tutorial (ou este) ou estude por outros meios se quiser aprender mais.

1.3 Active Record como um Framework ORM

Active Record fornece diversos mecanismos, sendo o mais importante a habilidade de:

  • Representar models e seus dados.
  • Representar associações entre estes models.
  • Representar hierarquia de heranças pelos models.
  • Validar models antes que sejam persistidos no banco de dados.
  • Executar operações nos bancos de dados de maneira orientada a objetos.

2 Convenção sobre configuração no Active Record

Quando escrevemos aplicações usando outras linguagens de programação ou frameworks, pode ser necessário escrever muito código de configuração. Isto é particularmente verdadeiro para frameworks ORM em geral. Entretanto, se você seguir as convenções adotadas pelo Rails, será necessário escrever pouco código de configuração (em alguns casos, nenhum) quando criar models do Active Record. A idéia por trás disso é que se você configura a sua aplicação da mesma forma na maior parte da vezes, ela deveria ser a forma padrão. Então, configuração explícita faz-se necessária somente em casos que você não pode seguir a convenção padrão.

2.1 Convenções para nomeação

Por padrão, o Active Record usa algumas definições de nomeação para descobrir como o mapeamento entre models e tabelas do banco de dados será criado. O Rails irá pluralizar o nome da sua classe para encontrar a sua respectiva tabela no banco de dados. Sendo assim, para a classe Book (livro), você deverá ter uma tabela no banco de dados chamada books (livros). Os mecanismos de pluralização do Rails são muito poderosos, sendo capazes de pluralizar (e singularizar) palavras regulares e irregulares. Quando usamos nomes de classes compostas por duas ou mais palavras, o nome do seu model deve seguir a convenção do Ruby, utilizando CamelCase, enquanto a tabela deve utilizar a forma snake_case, separando as palavras utilizando o caracter sublinhado. Exemplos:

  • Model - Escrito no singular capitalizando a primeira letra de cada palavra (p. ex., BookClub)
  • Tabela no banco de dados - Escrito no plural separando cada palavra com sublinhado (p. ex. book_clubs)
Model / Classe Tabela / Schema
Article articles
LineItem line_items
Deer deers
Mouse mice
Person people

2.2 Convenções de schema (esquema)

O Active Record utiliza convenções de nomeação para as colunas em tabelas de banco de dados, dependendo do seu propósito.

  • Chaves estrangeiras - Esses campos devem seguir o padrão de nomeação nome_da_tabela_no_singular_id (p. ex., item_id, pedido_id). O Active Record irá buscar por esses campos quando você criar associações entre os seus models.
  • Chaves primárias - Por padrão, o Active Record utiliza uma coluna do tipo inteiro chamada id como a chave primária da tabela (bigint para PostgreSQL e MySQL, integer para SQLite). Quando você usa as Migrations do Active Record para criar suas tabelas, essa coluna será criada automaticamente.

Existem outros nomes de colunas opcionais que vão adicionar alguns comportamentos adicionais para instâncias do Active Record.

  • created_at - Automaticamente informado com a data e hora atual de quando o registro foi criado.
  • updated_at - Automaticamente informado com a data e hora atual de quando o registor foi criado ou atualizado.
  • lock_version - Adiciona bloqueio otimista para um model.
  • type - Especifica que um model utiliza Herança de tabela única.
  • (nome_da_associacao)_type - Armazena o tipo associação polimórfica.
  • (nome_da_tabela)_count - Usado para cachear o número de objetos vinculados em uma associação. Por exemplo, uma coluna comentarios_count em uma classe Artigo que possui várias instâncias de Comentario vai cachear o número de comentários existentes para cada artigo.

Apesar de essas colunas serem opcionais, elas estão em fato reservadas pelo Active Record. Evite utilizar palavras-chave reservadas a não ser que você deseje a funcionalidade adicional. Por exemplo, type é uma palavra-chave reservada para designar que uma tabela está usando Herança de tabela única (STI). Se você não está utilizando STI, tente utilizar análogos como context, que ainda descrevem de forma correta o tipo de dado que você está modelando.

3 Criando Models do Active Record

Para criar models do Active Record, use a subclasse ApplicationRecord e você está pronto para começar:

class Product < ApplicationRecord
end

Isso criará o model Product, mapeado em uma tabela products na base de dados. Fazendo isso, você também possuirá a habilidade de mapear as colunas de cada linha da tabela com os atributos das instâncias do seu model. Suponha que a tabela products foi criada usando uma declaração SQL (ou uma de suas extensões) como:

CREATE TABLE products (
  id int(11) NOT NULL auto_increment,
  name varchar(255),
  PRIMARY KEY  (id)
);

O esquema acima declara uma tabela com duas colunas: id e name. Cada uma das linhas dessa tabela representa um certo produto com dois parâmetros. Portanto, você será capaz de escrever códigos como o seguinte:

p = Product.new
p.name = "Some Book"
puts p.name # "Some Book"

4 Sobrepondo Conveções de Nomes

E se você precisar seguir convenções diferentes ou usar sua aplicação Rails com um banco de dados legado? Sem problemas, você pode facilmente sobrepor as convenções padrão.

ApplicationRecord herda de ActiveRecord::Base, que define vários métodos úteis. Você pode usar o método ActiveRecord::Base.table_name= para especificar o nome da tabela que deve ser usada:

class Product < ApplicationRecord
  self.table_name = "my_products"
end

Se assim o fizer, você tem que definir manualmente o nome da classe que hospeda as fixtures (my_products.yml) usando o método set_fixture_class na definição do seu teste:

class ProductTest < ActiveSupport::TestCase
  set_fixture_class my_products: Product
  fixtures :my_products
  # ...
end

É possível sobrepor a coluna que deve ser usada como chave primária da tabela usando o método ActiveRecord::Base.primary_key= method:

class Product < ApplicationRecord
  self.primary_key = "product_id"
end

O Active Record não suporta o uso de colunas que não são do tipo chave primária nomeadas id.

5 CRUD: Lendo e Escrevendo Dados

CRUD é um acrônimo para os quatro verbos que utilizamos na operação dos dados: Create (criar), Read (ler, consultar), Update (atualizar) e Delete (deletar, destruir). O Active Record criará, automaticamente, métodos que permitem uma aplicação ler e manipular dados armazenados em suas tabelas.

5.1 Create

Os objetos do Active Record podem ser criados a partir de um hash, um bloco ou ter seus atributos definidos manualmente após a criação. O método new retornará um novo objeto, enquanto create retornará o objeto e o salvará no banco de dados.

Por exemplo, dado um model User com os atributos name e occupation, chamando o método create criará e salvará um novo registro no banco de dados:

user = User.create(name: "David", occupation: "Code Artist")

Usando o método new, um objeto pode ser instanciado sem ser salvo:

user = User.new
user.name = "David"
user.occupation = "Code Artist"

Uma chamada para user.save salvará o registro no banco de dados.

Finalmente, se um bloco for fornecido, ambos create e new passarão o novo objeto para aquele bloco executar a inicialização:

user = User.new do |u|
  u.name = "David"
  u.occupation = "Code Artist"
end

5.2 Read

O Active Record fornece uma API rica para acessar dados no banco de dados. Abaixo temos alguns exemplos de diferentes métodos para acessar os dados fornecidos pelo Active Record.

# retorna uma coleção com todos os usuários
users = User.all
# retorna o primeiro usuário da lista
user = User.first
# retorna o primeiro usuário com o nome David
david = User.find_by(name: 'David')
# encontra todos os usuários com o nome David que são Code Artists e os ordena por created_at em ordem cronológica inversa
users = User.where(name: 'David', occupation: 'Code Artist').order(created_at: :desc)

Você pode aprender mais sobre como consultar um model do Active Record no guia Active Record Query Interface.

5.3 Update

Uma vez que o objeto do Active Record for recuperado, seus atributos podem ser modificados e salvos no banco de dados.

user = User.find_by(name: 'David')
user.name = 'Dave'
user.save

Um atalho para isso seria usar um hash mapeando o nome dos atributos para o valor desejado, como a seguir:

user = User.find_by(name: 'David')
user.update(name: 'Dave')

Isto é mais útil quando atualizamos diversos atributos de uma vez. Se, por outro lado, você gostaria de atualizar diversos registros em massa, você pode achar o método de classe update_all útil:

User.update_all "max_login_attempts = 3, must_change_password = 'true'"

Isso é o mesmo que se você escrevesse:

User.update(:all, max_login_attempts: 3, must_change_password: true)

5.4 Delete

Da mesma forma, uma vez recuperado um objeto do Active Record, o mesmo pode ser destruído, o que o remove do banco de dados.

user = User.find_by(name: 'David')
user.destroy

Se você deseja excluir diversos registros em massa, você pode utilizar os métodos destroy_by ou destroy_all:

# encontra e deleta todos os usuários com o nome David
User.destroy_by(name: 'David')

# deleta todos os usuários
User.destroy_all

6 Validações

O Active Record permite que você valide o estado de um model antes que ele seja gravado no banco de dados. Existem diversos métodos que você pode usar para verificar seus models e validar que o valor de um atributo não é vazio, é único e já não existe no banco de dados, segue um formato específico, e muito mais.

A validação é uma questão muito importante a se considerar quando se está persistindo no banco de dados, então os métodos save e update levam isso em conta quando executados: eles retornam false quando a validação falha e eles de fato não performam nenhuma operação no banco de dados. Eles tem uma versão com bang (exclamação) (que são save! e update!), que são mais rigorosos e retornam a exceção ActiveRecord::RecordInvalid se a validação falha. Um rápido exemplo para ilustrar:

class User < ApplicationRecord
  validates :name, presence: true
end
irb> user = User.new
irb> user.save
=> false
irb> user.save!
ActiveRecord::RecordInvalid: Validation failed: Name can't be blank

Você pode aprender mais sobre validações no Guia de Validaçes de Active Record (em inglês).

7 Callbacks

Os callbacks de um Active Record permitem que você vincule códigos para alguns eventos no ciclo de vida de seus modelos. Isso permite que você adicione comportamentos para seus modelos executando códigos de forma transparente quando estes eventos acontecem, como quando você cria um novo registro, atualiza, destrói, e outros. Você pode aprender mais sobre callbacks no Guia de callbacks do Active Record.

8 Migrations

O Rails fornece uma Linguagem de Domínio Específico (DSL) para gerenciar o schema do banco de dados, chamada de migrations. As Migrations são armazenadas em arquivos que são executados diante de qualquer banco de dados que o Active Record suporta utilizando o rake. Aqui está uma migration que cria uma tabela:

class CreatePublications < ActiveRecord::Migration[7.0]
  def change
    create_table :publications do |t|
      t.string :title
      t.text :description
      t.references :publication_type
      t.integer :publisher_id
      t.string :publisher_type
      t.boolean :single_issue

      t.timestamps
    end
    add_index :publications, :publication_type_id
  end
end

O Rails mantém o controle de quais arquivos foram enviados ao banco de dados e fornece ferramentas de reversão. Para realmente criar uma tabela, você deverá executar bin/rails db:migrate e para reverter, bin/rails db:rollback

Observe que o código acima é agnóstico em relação ao banco de dados: irá rodar em MySQL, PostgreSQL, Oracle, entre outros. Você pode aprender mais sobre migrations no Guia de Migrations do Active Record.

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